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15/12/10

Ajudar o outro a crescer não basta. É preciso também deixar-se ajudar - Rosa Avello

O individualismo não combina com o amor. Quando duas pessoas se amam é impossível uma não se envolver com a vida da outra, apoiando-a ou desafiando-a, conforme as necessidades, para que possam evoluir juntas. Trata-se, é claro, de um processo de mão dupla, que não pode ser visto como invasão ou cobrança. Afinal, quem ama quer fazer diferença na vida de seu amor.

Os individualistas que me perdoem, mas ninguém cresce tão bem sozinho quanto acompanhado. Veja o meu caso: sempre gostei de correr, mas, ao primeiro sinal de cansaço, parava. Até que um amigo me observou e perguntou se eu queria ajuda para melhorar meu desempenho. Aceitei. Quando ameacei parar, ele disse: "Force um pouco mais." Continuei. Senti uma pontada no abdome, gritei de dor e avisei que pararia. Ele foi enfático: "Não! Você pode fazer melhor! Acredite, a dor vai passar."
Exausta, mas desafiada e confiante, continuei. A dor desapareceu e deu lugar a uma sensação maravilhosa! Eu acabara de descobrir o que todo corredor experiente sabe: 10 minutos depois de suportar a dor da exaustão vem o chamado segundo fôlego, uma sensação de bem-estar gerada pela produção de endorfinas. Dificilmente chegaria lá sozinha, pois, ao ameaçarmos nossa zona de conforto, o corpo emite alarmes que tendemos a obedecer.
O que isso tem a ver com amor? Tudo. Hoje, o individualismo propaga independência e autonomia. Prega-se que as pessoas podem atingir suas metas sozinhas desde que sejam disciplinadas. Por outro lado, aumentam as queixas de falta de amor e interesse nos relacionamentos.
Ora, quando uma pessoa se envolve com outra, deseja fazer a diferença na vida dela. Embora batida, a expressão traduz bem o que várias pesquisas apontam como fator crucial para a felicidade: acrescentar valor, mudar para melhor a vida de alguém. Penso que essa é a razão principal para que as pessoas se unam. Mas, para ajudar alguém a crescer, é preciso tirar esse alguém da zona de conforto, outro lugar-comum que ilustra o que os humanos fazem melhor: adaptar-se e acomodar-se.
Muita gente, porém, não se permite ser desafiada e não se compromete a desafiar. Acha que isso é cobrança. Essas mesmas pessoas evitam o compromisso, que poderia ferir a autonomia tão valorizada hoje.
O individualista acha que não precisa de ninguém, porém se queixa de não conseguir sentir-se feliz. Claro: é difícil, doloroso e triste crescer nos dias de hoje. Ainda mais sozinho Muitos, no meu lugar, se sentiriam desrespeitados e invadidos pelo amigo, quando ele queria apenas distender-me (distender é estirar, desenvolver). Ao desafiar meus limites, me ajudou a me tornar mais capaz. Isso só foi possível porque lhe dei permissão e me permiti.
Eu poderia ter questionado sua intenção e a capacidade, ter disputado com ele meus conhecimentos sobre corrida, ter duvidado de seu apoio e desejado controlar a situação. Nada disso aconteceu porque eu confiei e me entreguei.
Ele, por sua vez, poderia ter sido autoritário e me constranger, ter tentado mostrar superioridade e competir comigo, ou ter sido complacente quando fraquejei. Mas demonstrou respeito ao perguntar se eu queria ajuda. Foi generoso quando confiou em minha capacidade de superação e manteve seu apoio, mesmo quando ameacei desistir. Ele se comprometeu com meu crescimento, se entregou. Ao final, ambos estávamos satisfeitos.
Deixar-se distender por uma pessoa que está comprometida com nossa evolução é uma das maneiras mais autênticas de construir relações afetivas. Propor-se a distender o outro, com apoio e compromisso, é uma das formas mais generosas de vivê-las.
* Rosa Avello, psicoterapeuta na capital paulista, é especialista em sexualidade humana pelo Instituto Sedes Sapientiae, em psicodinâmica aplicada aos negócios pelo Grupo Dirigido (GD) e na aplicação do MBTI (instrumento de identificação dos perfis psicológicos) pelo Instituto Felipelli. Site: www.rosavello.com

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